sexta-feira, 28 de agosto de 2015

evoé dramaturgia!!!



depois de mais de um ano de afastamento, me dedicando a dois trabalhos que me tomaram todo tempo do mundo – curadoria dos espaços teatrais do sesi são paulo e o doutorado na usp -, retomo o blog com mais críticas e reflexões sobre a publicação de dramaturgia no brasil.

trabalhando com mais parceiros e em outros formatos que não só a crítica de livros publicados, inicio essa retomada do blog com um texto que escrevi para o projeto janela de dramaturgia e li na mesa “como você mostra?” na abertura da sua terceira edição. reescrevi o texto e inseri algumas outras observações que acho importante para a reflexão sobre dramaturgia no brasil.

na mesa comigo estavam os queridíssimos assis benevenuto e diones camargo, sob mediação da luciana romagnolli.

vamos a ele?!


por que publicar?





ao ser convidada para responder à provocação "como você mostra?" achei antes mais importante e interessante para o debate dar um passo para trás e mudar a pergunta que me foi proposta: no lugar de como publicar, penso ser interessante aproveitar esse momento para questionar: “por que publicar?”

essa pergunta é o resultado de um processo no qual a linguagem dramatúrgica vem lutando contra: a falta de espaço e reconhecimento da dramaturgia como produto literário ainda é dominante no brasil: a maior feira literária do nosso país, em sua 13a edição, nunca abriu as portas para discutir mais a fundo o gênero e tampouco o prêmio jabuti contempla uma categoria para dramaturgia.

bem, mas menos do que discutir o mercado literário para dramaturgia no brasil, acho importante discutir a mentalidade dramatúrgica de nosso movimento artístico. duas experiências podem nos ajudar a pensar:

numa oficina ministrada pelo dramaturgo luis alberto de abreu ele nos contou sobre uma experiência com o teatro vertigem, no qual, após finalizar o texto no processo colaborativo foi questionado sobre a possibilidade de exclusão de uma cena, já que o cenário proposto pelo cenógrafo deixaria o espetáculo redundante caso ele mantivesse o texto original. a cena foi cortada e o cenário mantido. porém na publicação da obra, o dramaturgo decidiu manter a cena.

podemos citar também a publicação dos textos da mineira grace passô que inseriu rubricas instaurando não só a sugestão de ações cênicas, como o contexto poético das cenas. sem a pretensão de dar contar da retratação da linguagem teatral, a dramaturga investiu outras criações poéticas para que a experiência de leitura não se limitasse à descrição das ações dos atores.

por outro lado, ainda encontramos publicações que iniciam com “este texto foi montado em tal teatro com tal elenco". este paratexto parece desimportante, mas ele revela ainda uma preocupação com a memória do teatro a divulgação daquela experiência de encenação. essa preocupação ainda tão existente ainda é o resquício de um teatro dramático que teve sua história contada pelos textos que perduraram, já que o teatro é uma arte tão efêmera cuja experiência é impossível de ser apreendida. restou ao teatro manter na história da dramaturgia, a história da cena.

portanto, podemos identificar que ainda existe um pensamento que acredita que a publicação de dramaturgia é uma maneira de manter a memória do espetáculo, mesmo que hoje já possamos falar de novas possibilidades que se debruçam não no registro do teatro, mas no desenvolvimento de novas linguagens que, de alguma maneira, prestam esse serviço de memória ao mesmo tempo em que criam uma linguagem própria, como é o caso do teatro filmado, pesquisado principalmente pela alemã beatrice picon vallin.

seguindo neste raciocínio, qualquer dramaturgo no início de sua produção já escutou o conselho de que é mais importante que o seu texto seja encenado do que publicado. esse tipo de mentalidade parece ainda estar muito presente no contexto da dramaturgia no brasil. mas vale o questionamento: isso é necessariamente uma regra?

por outro lado, escritores que não estão ambientados às discussões teatrais da contemporaneidade, quando se aventuram a linguagem dramatúrgica ainda estão extremamente vinculados ao formato dramático, exaltando ainda os aspectos intersubjetivos dos personagens e o desenvolvimento do enredo. alguns exemplos é o homem como invenção de si mesmo do ferreira gullar ou ainda paisagem em campos de jordão do marcelo mirisola e nilo oliveira.

finalizando minha interferência no bate papo, sugiro que pensemos sobre algumas provocações, para construirmos a partir daí o nosso diálogo:

a mídia no caso da dramaturgia – teatro ou livro – pode desenrolar numa discussão sobre a linguagem ou sobre o gênero dramatúrgico? como isso interfere no entendimento da linguagem se considerarmos que as fronteiras entre os gêneros (dramático, lírico e épico) estão cada vez mais borrados?

a publicação de dramaturgia ainda hoje deve manter a sua função de memória do teatro?

há diferenças entre o espectador de dramaturgia contemporânea e o leitor de dramaturgia contemporânea?

é saudável para a dramaturgia tentar retomar um espaço literário do qual se esforçou tanto para se desvencilhar?

a cena valida ou qualifica a dramaturgia?

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