depois
de mais de um ano de afastamento, me dedicando a dois trabalhos que me tomaram
todo tempo do mundo – curadoria dos espaços teatrais do sesi são paulo e o
doutorado na usp -, retomo o blog com mais críticas e reflexões sobre a
publicação de dramaturgia no brasil.
trabalhando
com mais parceiros e em outros formatos que não só a crítica de livros
publicados, inicio essa retomada do blog com um texto que escrevi para o
projeto janela de dramaturgia e li na mesa “como você mostra?” na abertura da
sua terceira edição. reescrevi o texto e inseri algumas outras observações que
acho importante para a reflexão sobre dramaturgia no brasil.
na
mesa comigo estavam os queridíssimos assis benevenuto e diones camargo, sob
mediação da luciana romagnolli.
vamos
a ele?!
ao
ser convidada para responder à provocação "como você mostra?" achei antes
mais importante e interessante para o debate dar um passo para trás e mudar a
pergunta que me foi proposta: no lugar de como publicar, penso ser interessante
aproveitar esse momento para questionar: “por que publicar?”
essa
pergunta é o resultado de um processo no qual a linguagem dramatúrgica vem
lutando contra: a falta de espaço e reconhecimento da dramaturgia como produto
literário ainda é dominante no brasil: a maior feira literária do nosso país, em
sua 13a edição, nunca abriu as portas para discutir mais a fundo o gênero e
tampouco o prêmio jabuti contempla uma categoria para dramaturgia.
bem,
mas menos do que discutir o mercado literário para dramaturgia no brasil, acho
importante discutir a mentalidade dramatúrgica de nosso movimento artístico.
duas experiências podem nos ajudar a pensar:
numa
oficina ministrada pelo dramaturgo luis alberto de abreu ele nos contou sobre
uma experiência com o teatro vertigem, no qual, após finalizar o texto no
processo colaborativo foi questionado sobre a possibilidade de exclusão de uma
cena, já que o cenário proposto pelo cenógrafo deixaria o espetáculo redundante
caso ele mantivesse o texto original. a cena foi cortada e o cenário mantido. porém
na publicação da obra, o dramaturgo decidiu manter a cena.
podemos
citar também a publicação dos textos da mineira grace passô que inseriu
rubricas instaurando não só a sugestão de ações cênicas, como o contexto
poético das cenas. sem a pretensão de dar contar da retratação da linguagem
teatral, a dramaturga investiu outras criações poéticas para que a experiência
de leitura não se limitasse à descrição das ações dos atores.
por
outro lado, ainda encontramos publicações que iniciam com “este texto foi
montado em tal teatro com tal elenco". este paratexto parece
desimportante, mas ele revela ainda uma preocupação com a memória do teatro a divulgação
daquela experiência de encenação. essa preocupação ainda tão existente ainda é
o resquício de um teatro dramático que teve sua história contada pelos textos
que perduraram, já que o teatro é uma arte tão efêmera cuja experiência é
impossível de ser apreendida. restou ao teatro manter na história da
dramaturgia, a história da cena.
portanto,
podemos identificar que ainda existe um pensamento que acredita que a
publicação de dramaturgia é uma maneira de manter a memória do espetáculo,
mesmo que hoje já possamos falar de novas possibilidades que se debruçam não no
registro do teatro, mas no desenvolvimento de novas linguagens que, de alguma
maneira, prestam esse serviço de memória ao mesmo tempo em que criam uma
linguagem própria, como é o caso do teatro filmado, pesquisado principalmente
pela alemã beatrice picon vallin.
seguindo
neste raciocínio, qualquer dramaturgo no início de sua produção já escutou o
conselho de que é mais importante que o seu texto seja encenado do que
publicado. esse tipo de mentalidade parece ainda estar muito presente no contexto
da dramaturgia no brasil. mas vale o questionamento: isso é necessariamente uma
regra?
por
outro lado, escritores que não estão ambientados às discussões teatrais da
contemporaneidade, quando se aventuram a linguagem dramatúrgica ainda estão
extremamente vinculados ao formato dramático, exaltando ainda os aspectos
intersubjetivos dos personagens e o desenvolvimento do enredo. alguns exemplos
é o homem como invenção de si mesmo do ferreira gullar ou ainda paisagem em
campos de jordão do marcelo mirisola e nilo oliveira.
finalizando
minha interferência no bate papo, sugiro que pensemos sobre algumas
provocações, para construirmos a partir daí o nosso diálogo:
a
mídia no caso da dramaturgia – teatro ou livro – pode desenrolar numa discussão
sobre a linguagem ou sobre o gênero dramatúrgico? como isso interfere no
entendimento da linguagem se considerarmos que as fronteiras entre os gêneros
(dramático, lírico e épico) estão cada vez mais borrados?
a
publicação de dramaturgia ainda hoje deve manter a sua função de memória do
teatro?
há
diferenças entre o espectador de dramaturgia contemporânea e o leitor de
dramaturgia contemporânea?
é
saudável para a dramaturgia tentar retomar um espaço literário do qual se
esforçou tanto para se desvencilhar?
a
cena valida ou qualifica a dramaturgia?
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