segunda-feira, 11 de março de 2013

morgue story – sangue baiacu e quadrinhos – paulo biscaia filho




palcos de sangue é nome do livro do diretor, dramaturgo e cineasta paulo biscaia filho, que contém três obras: morgue story, graphic e nervo craniano zero. publicado pela editora estronho, o livro tem assinatura da vigor mortis vídeo, stage & words, a produtora/companhia de teatro idealizada e dirigida por paulo. para esta reflexão escolhemos o primeiro texto, morgue story – sangue baiacu e quadrinhos.

a proposta de paulo biscaia me parece ser singular no brasil e quiçá no mundo. num interesse em retomar aspectos do francês thêátre du grand guignol surgido no fim do século xix, o horror e a fantástico são reavidos na obra de biscaia de maneira atualizada. somado a recursos tecnológicos, no uso da imagem e à linguagem pop das histórias em quadrinhos, as obras ganham em fôlego e proporcionam uma leitura clara, objetiva e ao mesmo tempo imprevisível.

nesse universo fantástico, morgue story apresenta três personagens que se encontram num necrotério e envolto à confusões, mal-entendidos e más intenções acerca da doença da catalepsia - quando o sujeito morre, ou nos parece morto, por alguns instantes - essas figuras se relacionam e nos apresentam suas neuroses e suas peculiaridades.

biscaia apresenta o livro já declarando não considerar os textos obras dramatúrgicas e sim “registros escritos da montagem”. sem levantar a questão de que os parâmetros que delineiam os gêneros, por tempos não podem mais serem considerados nas obras da atualidade, a obra de biscaia nos parece sim um registro, devido a sua objetividade e direcionamento na linguagem criada pelo diretor/escritor. as referências visuais e as soluções cênicas dadas às situações do texto, como a inserção de outros personagens em vídeos projetados que dialogam com os atores em cena, nos parecem de fato fazer parte daquele universo criado na ficção. a agilidade das relações entre os personagens somada à linha de comunicação direta e objetiva características da linguagem cinematográfica dão às indicações da montagem elo e coerência nas indicações objetivas e universo estético.



portanto, por mais que o diretor considere o texto um registro, ele não perde fruição na criação de uma ficção interessante e envolvente quando da sua leitura. a objetividade das indicações cênicas, as rubricas, não nos afasta do texto e tampouco delimita nosso poder de imaginação e apreensão da escritura. numa estrutura dramática quase convencional – retirando os cortes temporais e a inserção, poucas, de monólogos narrativos – o interesse do texto se dá no desenrolar da história e na construção dos personagens, rápidos, jovens e impulsivos. de maneira instigante o texto nos impulsiona a imaginar o universo dos hq`s e dos filmes de terror como base para a construção não só visual mas também atmosférica e da áurea de todo espetáculo.

além da imprevisibilidade no desenvolvimento da narrativa ficcional, na inserção da linguagem dos quadrinhos, e da engenhosidade tecnológica proposta na solução do texto, a dramaturgia de paulo biscaia filho é instigante por se mostrar singular na utilização do gênero horror pelo teatro e pela  atualização inventiva e consistente que o gênero, desde os tempos de thêátre du grand guignol, requer de seus autores para a renovação estética e reconquista do público. 

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