newton moreno tem
dois livros publicados, um deles com dois textos e o outro com três, um
publicado pela editora terceiro nome e o outro pela imprensa oficial em
parceira com a aliança francesa. quero muito escrever sobre os dois, mas pra
começar escolhi o primeiro a chegar nas livrarias.
a coleção palco sur
scene foi um projeto realizado no ano da frança no brasil e contém vários
livros importante para a literatura dramática. o livro de newton moreno contém
três peças: agreste, body art e a refeição. neste post irei abordar somente o
primeiro, agreste, que foi encenado por marcio aurélio e rendeu ao dramaturgo vários
prêmios.
correndo um
pouquinho, somente por enquanto, das principais questões da temática do texto,
uma pergunta importante nos recorre quando da leitura deste texto: qual o
limite, se é que ele existe, entre a cultura popular e o que se costuma dizer
de “alta cultura” ou “arte”? qual a diferença entre a cultura popular produzida
no sertão nordestino e aquele da periferia das grandes cidades? é certo que a
cultura popular existe mas é cada vez mais difícil delimitar os seus parâmetros,
as suas questões particulares, suas qualificações.
o texto de newton
moreno apresenta a conduta de dois personagens principais a partir de um
narrador, como ele próprio descreve, “um velho contador de histórias” e com
isso percebemos em todo formato da fala, na arquitetura das palavras, uma
presença da oralidade peculiar dos contadores tradicionais do nordeste, sem
cair, de maneira alguma, num estereótipo dessa figura. e com ele, o texto
revela uma capacidade imensa de envolvimento a partir da narração de uma história,
uma bela história.
e justamente por
conta dessa inserção tão forte da narratividade é que podemos nos perguntar
sobre qual o lugar dessa dramaturgia em relação às tradicionais características
do teatro: a apresentação de personagens a partir de suas próprias ações, sem a
presença de um terceiro que narre sua história. é fato que os personagem se
apresentam e dialogam no espetáculo, porém a presença do contador é a maior
característica da peça. isso torna o texto uma singularidade em relação
aos formatos rígidos do drama e nos propõe uma questão: o que faz então um
texto ser um texto para o teatro.
moreno nos responde
a medida que no texto, encontramos a necessidade da existência de um corpo, que
age, se movimenta, dança: “das união destas duas linguagens – oralidade e a dança-teatro;
verbo e movimento – será feito o espetáculo” incita o dramaturgo.
e por outro lado, o
que mais nos surpreende é a capacidade do texto de tocar em assuntos que ainda
são considerados tabu de maneira tão sensível. costumo dizer que a maioria das
experiências artísticas que revelam uma temática homossexual normalmente são
histéricas, burguesas ou políticas. não é o caso de agreste.
a fala do contador
revela essa situação de maneira poética e sensível sem esquecer da frieza e
objetividade que ela pede. o homossexualismo é revelado de maneira revoltosa
pelos personagens da comunidade, porém o que mais nos chama atenção é a
simplicidade e liricidade com que habilmente o autor arquiteta o texto. a
poeticidade não é frágil ou banal. com metáforas e outras figuras de linguagem o
texto se revela sensível e rebuscado, não apresentando a temática de forma
alienada mas tampouco requerendo um espaço político forçosamente. o político se
dá através da própria linguagem, que instaura uma nova forma de vivenciar as
experiências de leitura, revelando uma nova maneira de relacionar-se consigo
mesmo e com a sociedade.
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