quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

agreste – newton moreno





newton moreno tem dois livros publicados, um deles com dois textos e o outro com três, um publicado pela editora terceiro nome e o outro pela imprensa oficial em parceira com a aliança francesa. quero muito escrever sobre os dois, mas pra começar escolhi o primeiro a chegar nas livrarias.

a coleção palco sur scene foi um projeto realizado no ano da frança no brasil e contém vários livros importante para a literatura dramática. o livro de newton moreno contém três peças: agreste, body art e a refeição. neste post irei abordar somente o primeiro, agreste, que foi encenado por marcio aurélio e rendeu ao dramaturgo vários prêmios.

correndo um pouquinho, somente por enquanto, das principais questões da temática do texto, uma pergunta importante nos recorre quando da leitura deste texto: qual o limite, se é que ele existe, entre a cultura popular e o que se costuma dizer de “alta cultura” ou “arte”? qual a diferença entre a cultura popular produzida no sertão nordestino e aquele da periferia das grandes cidades? é certo que a cultura popular existe mas é cada vez mais difícil delimitar os seus parâmetros, as suas questões particulares, suas qualificações.

o texto de newton moreno apresenta a conduta de dois personagens principais a partir de um narrador, como ele próprio descreve, “um velho contador de histórias” e com isso percebemos em todo formato da fala, na arquitetura das palavras, uma presença da oralidade peculiar dos contadores tradicionais do nordeste, sem cair, de maneira alguma, num estereótipo dessa figura. e com ele, o texto revela uma capacidade imensa de envolvimento a partir da narração de uma história, uma bela história.





e justamente por conta dessa inserção tão forte da narratividade é que podemos nos perguntar sobre qual o lugar dessa dramaturgia em relação às tradicionais características do teatro: a apresentação de personagens a partir de suas próprias ações, sem a presença de um terceiro que narre sua história. é fato que os personagem se apresentam e dialogam no espetáculo, porém a presença do contador é a maior característica da peça.  isso torna o texto uma singularidade em relação aos formatos rígidos do drama e nos propõe uma questão: o que faz então um texto ser um texto para o teatro.



moreno nos responde a medida que no texto, encontramos a necessidade da existência de um corpo, que age, se movimenta, dança: “das união destas duas linguagens – oralidade e a dança-teatro; verbo e movimento – será feito o espetáculo” incita o dramaturgo.

e por outro lado, o que mais nos surpreende é a capacidade do texto de tocar em assuntos que ainda são considerados tabu de maneira tão sensível. costumo dizer que a maioria das experiências artísticas que revelam uma temática homossexual normalmente são histéricas, burguesas ou políticas. não é o caso de agreste.


a fala do contador revela essa situação de maneira poética e sensível sem esquecer da frieza e objetividade que ela pede. o homossexualismo é revelado de maneira revoltosa pelos personagens da comunidade, porém o que mais nos chama atenção é a simplicidade e liricidade com que habilmente o autor arquiteta o texto.  a poeticidade não é frágil ou banal. com metáforas e outras figuras de linguagem o texto se revela sensível e rebuscado, não apresentando a temática de forma alienada mas tampouco requerendo um espaço político forçosamente. o político se dá através da própria linguagem, que instaura uma nova forma de vivenciar as experiências de leitura, revelando uma nova maneira de relacionar-se consigo mesmo e com a sociedade.

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