palcos de sangue é nome do livro
do diretor, dramaturgo e cineasta paulo biscaia filho, que contém três obras:
morgue story, graphic e nervo craniano zero. publicado pela editora estronho, o
livro tem assinatura da vigor mortis vídeo, stage & words, a
produtora/companhia de teatro idealizada e dirigida por paulo. para esta
reflexão escolhemos o primeiro texto, morgue story – sangue baiacu e
quadrinhos.
a proposta de paulo biscaia me
parece ser singular no brasil e quiçá no mundo. num interesse em retomar
aspectos do francês thêátre du grand guignol surgido no fim do século xix, o
horror e a fantástico são reavidos na obra de biscaia de maneira atualizada.
somado a recursos tecnológicos, no uso da imagem e à linguagem pop das
histórias em quadrinhos, as obras ganham em fôlego e proporcionam uma leitura
clara, objetiva e ao mesmo tempo imprevisível.
nesse universo fantástico, morgue
story apresenta três personagens que se encontram num necrotério e envolto à
confusões, mal-entendidos e más intenções acerca da doença da catalepsia -
quando o sujeito morre, ou nos parece morto, por alguns instantes - essas
figuras se relacionam e nos apresentam suas neuroses e suas peculiaridades.
biscaia apresenta o livro já
declarando não considerar os textos obras dramatúrgicas e sim “registros
escritos da montagem”. sem levantar a questão de que os parâmetros que
delineiam os gêneros, por tempos não podem mais serem considerados nas obras da
atualidade, a obra de biscaia nos parece sim um registro, devido a sua
objetividade e direcionamento na linguagem criada pelo diretor/escritor. as
referências visuais e as soluções cênicas dadas às situações do texto, como a
inserção de outros personagens em vídeos projetados que dialogam com os atores
em cena, nos parecem de fato fazer parte daquele universo criado na ficção. a
agilidade das relações entre os personagens somada à linha de comunicação
direta e objetiva características da linguagem cinematográfica dão às indicações
da montagem elo e coerência nas indicações objetivas e universo estético.
portanto, por mais que o diretor
considere o texto um registro, ele não perde fruição na criação de uma ficção
interessante e envolvente quando da sua leitura. a objetividade das indicações
cênicas, as rubricas, não nos afasta do texto e tampouco delimita nosso poder
de imaginação e apreensão da escritura. numa estrutura dramática quase
convencional – retirando os cortes temporais e a inserção, poucas, de monólogos
narrativos – o interesse do texto se dá no desenrolar da história e na
construção dos personagens, rápidos, jovens e impulsivos. de maneira instigante
o texto nos impulsiona a imaginar o universo dos hq`s e dos filmes de terror
como base para a construção não só visual mas também atmosférica e da áurea de
todo espetáculo.
além da imprevisibilidade no
desenvolvimento da narrativa ficcional, na inserção da linguagem dos
quadrinhos, e da engenhosidade tecnológica proposta na solução do texto, a
dramaturgia de paulo biscaia filho é instigante por se mostrar singular na
utilização do gênero horror pelo teatro e pela atualização inventiva e consistente que o gênero, desde os
tempos de thêátre du grand guignol, requer de seus autores para a renovação
estética e reconquista do público.
Valeu, Ligia!
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